Em 2011, iniciaram-se as primeiras conversas entre a pesquisadora Rosaly Lopes, coordenadora de Ciências Planetárias do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), da NASA, e o pesquisador Walter Gonzalez, líder do grupo de Heliofísica da Coordenação de Ciências Espaciais e Atmosféricas (CEA) do INPE. A partir destes contatos, foram traçadas as primeiras atividades em comum com o objetivo de se criar e consolidar uma nova área de pesquisa na CEA, no campo de Física Planetária, fronteira do conhecimento em que alguns países vêm investindo nos últimos anos.
A estratégia para a criação dessa linha de pesquisa no INPE foi reunir a experiência da pesquisadora da NASA, em vulcanismo e dinâmica planetária, e a do grupo de pesquisadores da CEA, liderado por Gonzalez, na área de magnetosferas planetárias. Apesar de campos de conhecimento distintos, os dois temas possuem conexões, afirmam os pesquisadores, principalmente quando se trata da magnetosfera de Júpiter e de atividades vulcânicas de Io, uma das maiores luas deste planeta. Io é um dos astros de maior atividade vulcânica enquanto Júpiter é o planeta com maior campo magnético do sistema solar.
A pesquisadora da NASA explica que “a intensa atividade vulcânica de Io e a interferência que provoca no campo magnético e na magnetosfera de Júpiter gera um toros (um anel pneumático) de plasma ionizado em torno do planeta”. Como parte desse fenômeno, partículas ejetadas pelo vulcanismo de Io precipitam-se ao longo do campo magnético de Júpiter e ao se conectarem com a região auroral do planeta, nos polos magnéticos, geram intensas emissões de rádio. Estas emissões, segundo Gonzalez, também podem ser fonte de identificação de exoplanetas, planetas fora do sistema solar, que possam apresentar fenômenos semelhantes a este na região auroral de Júpiter.
Apesar de se conhecer as correlações entre o vulcanismo de Io e o comportamento da magnetosfera de Júpiter, em especial, em sua região auroral, pouco se sabe ainda sobre como estas ocorrem com maior profundidade. O que se sabe hoje desses fenômenos, em grande parte, é resultado de observações coletadas por sondas espaciais, como Ulisses e Cassini, que fizeram passagens não muito próximas ao planeta nos últimos anos.
A pesquisadora Rosaly Lopes afirma que a missão da sonda espacial JUNO, desenvolvida em parceria entre a NASA e a ESA (Agência Espacial Europeia) deverá trazer novos dados sobre esses fenômenos, permitindo melhorar a compreensão sobre a interação de Io com a magnetosfera de Júpiter. A sonda, programada para ser lançada no próximo ano, ficará em órbita polar de Júpiter.
No INPE, o grupo do pesquisador Walter Gonzalez vem atuando há vários anos no estudo da magnetosfera terrestre, cujo comportamento é bastante influenciado pelo vento solar, enquanto o de Júpiter recebe maior influência de seu próprio movimento de rotação, mais rápido que o da Terra.
A troca de experiências e as atividades conjuntas de pesquisa estão recebendo o suporte do Programa Ciência Sem Fronteira (PSF), que deu apoio à visita da pesquisadora da NASA, Rosely Lopes, ao INPE, realizada entre os dias 16 e 20 de novembro. O Programa também vem oferecendo apoio à visita de uma aluna de doutorado do INPE ao JPL/NASA, onde recebe a orientação da pesquisadora Rosely Lopes. Os pesquisadores envolvidos nessa cooperação NASA e INPE estudam ainda a possibilidade de propor o envio de um magnetômetro, tecnologia em desenvolvimento no INPE, em uma futura missão de sonda espacial.
Também como resultado dessa parceria, está sendo organizado um workshop –Io-Iteraction between Volcanic Activity and Jupiter’s Magnetosphere – programado para abril do próximo ano, no INPE, que já conta com a confirmação da participação de 20 pesquisadores de instituições estrangeiras que desenvolvem pesquisa na área. O evento irá acontecer três meses antes do lançamento da sonda espacial JUNO e um dos principais pesquisadores que integram a missão já confirmou presença no workshop.
Durante a sua visita ao INPE, além de atividades de pesquisa, Rosely Lopes proferiu uma palestra aberta ao público sobre as atividades vulcânicas da lua Titã, de Saturno, cujos dados para pesquisa foram obtidos pela sonda espacial Cassini, da NASA.
Fonte: Site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
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