O acidente acorrido com a Missão SARA foi algo que me deixou muitochateado e frustrado desde o momento que fiquei sabendo o que tinha acontecido. Confesso que a emoção tomou conta de mim e eu chorei feito uma criança.
O Projeto SARA sempre foi o meu xodó desde que tomei conhecimento de sua existência ainda na época em que o seu idealizador, o Dr. Paulo Moraes Junior (já falecido), era o coordenador do projeto, não só pelos seus objetivos, mas principalmente por enxergar nele uma gama de oportunidades futuras extremamente mobilizadoras para todo setor espacial brasileiro e evidentemente, sendo um projeto Dual, também na área de Defesa.
O próprio Dr. Paulo, um visionário, já havia me dito algumas vezes que após a sua aposentadoria do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) planejava criar uma empresa espacial tendo como primeiro projeto o desenvolvimento de um sistema de acoplagem com outros objetos no espaço para ser utilizado pela futura cápsula SARA Orbital, mas infelizmente o seu falecimento prematuro atrapalhou os seus planos.
Assim sendo, quando tomei conhecimento do ocorrido com a Missão do SARA Suborbital 1, no dia seguinte (Sábado – 14/11) peguei minha Bike e pedalei mais de 30 km até a Praia de Buraquinho (Lauro de Freitas-BA)para assim tentar esfriar a cabeça e organizar as ideias, afinal ainda tinha o relatório da missão para escrever, algo que diante do ocorrido não seria nada prazeroso fazer.
Enquanto na praia envolto pela frustração e pelos pensamentos fui contatado pelo meu WatsApp por cinco profissionais do PEB que como eu estavam frustrados, chateados e preocupados com o futuro do Projeto SARA, esperando, talvez, ouvir de mim alguma palavra de conforto e esperança, coisa que infelizmente naquele momento (e muito menos agora) não tinha como fazê-lo.
Vale dizer que antes mesmo do meu relatório e de qualquer esclarecimento oficial da FAB (coisa que posteriormente demonstraria ser bastante frustrante) começaram surgir na net e nas redes sociais as costumeiras teorias da conspiração (endossadas sem necessidade a meu ver pela forma como a FABtratou o ocorrido quando não foi didática com as suas explicações para à sociedade) supondo que o incidente teria sido motivado por sabotagem e indo além, apontado irresponsavelmente os EUA como o provável autor da suposta sabotagem.
Sabotagem? Ora leitor, é verdade que a possibilidade de sabotagem ela realmente existe, mas é apenas uma das muitas possibilidades que justificam situações como esta. Porém não se deve sair acusando irresponsavelmentepessoas, instituições e países sem que se hajam provas, não é assim que uma pessoa de bem, um cidadão respeitável e conhecedor de seus direitos e principalmente seus deveres, deve agir, enfim...
Felizmente, no dia de ontem (19/11) fui contatado por um grande profissional do PEB (conhecedor do projeto do foguete VS-40) que apesar de não está presente no incidente, mas diante do que foi dito pela FAB, resolveu externar a sua opinião sobre o que pode ter ocorrido com a Missão do SARA.
Segundo este profissional (que me pediu para não divulgar o seu nome), por conhecer o foguete e o processo de lançamento algumas coisas podem ser concluídas:
“Houve ignição do foguete mas o mesmo não partiu.
Combustível sólido não explode e sim queima. A fumaça da foto era de um motor queimando.
O único dispositivo que realmente explode é o ignitor. O processo de ignição após a detonação do ignitor é onde mora o problema. Assim poderiam ter acorrido pelo menos 3 problemas:
1 - fracionamento do bloco de propelente;
2 - desculatração da tubeira
3 - rompimento da carcaça do motor em torno do ignitor (foi o que ocorreu com o VLS V02)
Os problemas 1 e 2 fariam o foguete não realizar o voo, mas tiraria o veículo da rampa.
Se o veículo nem saiu da rampa (nada o prende nela) o mais provável é que tenha sido o problema 3.
Neste caso, terá havido um grande dano na própria rampa de lançamento e não apenas no experimento (que deve ter se perdido).
Então este é um ponto pra saber o que aconteceu. Saber como ficou a rampa de lançamento. Se ela tiver sido destruída (ao menos parcialmente) indica a explosão provocada pelo ignitor.
Como esse problema já havia acontecido antes no VLS e disseram que "consertaram" a possível causa, resta saber quem foi o responsável pelo montagem do ignitor.
Detalhe importante, esse é o único evento que não pode ser testado na contagem simulada...”
Pois é leitor, após ser contatado por este grande profissional resolvi trazer para você a visão dele do que pode ter ocorrido, mas a FAB divulgou que uma comissão de especialistas será montada para investigar o incidente, mas devido ao que está em jogo, creio que dificilmente esta comissão apresentará para sociedade um relatório com todas as suas conclusões, o que é uma pena.
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